Vários pais trabalham fora e possuem relativa facilidade de aquisição de bens
de consumo. É comum ver pais/avós atendendo não só as necessidades como
também caprichos sem impor limites às crianças. Dão tudo, de caráter
material e afetivo, em excessos, sem ensinar aos pequenos a valorizar o que
têm e ganham.
O adulto sobrecarrega a criança pequena quando transfere a responsabilidade
de escolha, perguntando por exemplo que horas vai dormir. Contudo, é papel
do responsável cuidar, acolher, orientar, encaminhar e exigir, de maneira
compreensiva e proporcional, certas ações relativas ao perfil da criança
conforme a situação. Os limites dão a noção de fronteira à criança para ajustar
o comportamento norteando as decisões sobre o certo e o errado.
Para prender atenção da criança, é preciso estimular o prazer da descoberta.
Ela necessita perceber a existência de uma ordem e hierarquia aplicadas na
sua rotina, de modo a deixá-la segura em relação ao mundo novo a ser
descoberto. A criança sem limites cresce com deformação na percepção da
relação com o outro. Tenta dobrar a realidade e as pessoas à sua volta
importando somente ela mesma e sua vontade.
É comum pais/avós hesitarem em dizer sim ou não a criança por medo de
arrependerem-se. Porém, a resposta precisa ser coerente ao objetivo de educar
e os pais não devem voltar atrás após a decisão tomada. Caso contrário, fica
subentendido a possibilidade dos limites poderem ser negociáveis deixando a
criança sem referências e acreditando equivocadamente possuir controle sobre
as pessoas e circunstâncias.
Muitos adultos ficam confusos ao tentar distinguir entre o desejo e a real
necessidade da criança. O desejo é a expectativa de possuir ou alcançar algo.
A necessidade é imprescindível à existência do ser humano. Embora às vezes
não pareça, algumas crianças são espertas e podem utilizar de manipulação e
chantagem emocional testando pais/avós afim de saber até que ponto são
capazes de satisfazerem seus desejos.
O ambiente familiar exerce forte influência sobre a criança, podendo ser fonte
de recursos para um bom desempenho ou conduzi-la ao reforço de
comportamentos disfuncionais. Entretanto, sem condução correta por falta de
limites, a criança pode mostrar-se teimosa, birrenta, irritadiça, impaciente e
arredia às determinações dos adultos.
O dilema de alguns pais é não saber como compensar sua ausência. Buscam
demonstrar afeto comprando presentes. Todavia, rápido a criança perde
interesse pelos seus objetos e além disso a quantidade de mimos não a torna
melhor e nem mais feliz. Também não é aconselhável barganhar para fazer o
filho pequeno obedecer. Ele se adequará as condições oportunas, não
aprenderá o porquê das coisas e terá dificuldades para compreender o motivo
das regras.
O excesso de zelo e o acobertamento evitando enxergar o erro/imaturidade da
criança sugere dependência emocional do adulto. Esse adulto orienta-se em
função da qualidade dos relacionamentos afetivos como forma de dar sentido
a sua vida. Em geral, se conhece superficialmente, aprisiona o ente querido e a
si mesmo, subestima a necessidade dos demais e ama com medo da solidão.
A criança superprotegida tende a apresentar dificuldades para desenvolver
competências e habilidades. Mostra-se frágil e insegura para explorar o
mundo ao seu redor e aprender por meio das próprias experiências. Tende a
tornar-se cada vez mais dependente da ajuda e opinião dos pais, espera que os
outros resolvam suas questões e intercedam por ela.
Preocupados em não desapontar o filho/neto muitos cuidadores privam a
criança de vivenciar e experimentar a frustração. Com aprovação e
consentimento, a criança ocupa quase todo espaço da casa a ponto de
pais/avós tornarem-se apenas instrumentos para atender suas vontades. Tais
adultos parecem esquecer o quão não é possível atender todas nossas vontades
ao longo da vida e o quanto é normal decepcionar-se.
Ter seus desejos constantemente atendidos significa querer sempre mais e não
saber identificar o necessário para si mesmo. A frustração favorece a
formação do caráter ao ensinar a suportar um desejo não atendido, aceitar uma
espera imposta, e também impulsiona pensar em possíveis alternativas para se
sentir satisfeito.
Diante das inúmeras concessões desnecessárias e os respectivos prejuízos
discutidos, sugere-se a pais/avós refletirem sobre o tipo de educação dada as
crianças. Mesmo os pequenos tendo resistência em assimilar o não, os pais
devem permanecer confiantes e firmes na tarefa de educar.
O desafio de educar uma criança consiste em conseguir dosar amor sem
permissividade e limite sem autoritarismo. A contenção de posturas
inadequadas deve ser clara e explícita, mostrando à criança o que é esperado,
o que pode ou não ser feito e as consequências das atitudes, devendo-se
instruí-la a tolerar as frustrações e respeitar os próprios limites e os dos outros.
Para tanto, torna-se necessário perceber o essencial no atendimento às
necessidades e às solicitações do filho, valorizar o útil em detrimento do
supérfluo, eliminando os excessos e inutilidades sem abrir mão da satisfação
de demonstração do afeto. Transmitir amor sem sufocar nem negligenciar o
tempo de convívio familiar e ao mesmo tempo deixar os filhos crescerem
entendendo que na vida menos pode ser mais.